A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) deu um passo importante ao aprovar o medicamento Mounjaro (tirzepatida) para auxiliar na perda de peso. Essa decisão, muito esperada, abre novas possibilidades para milhões de brasileiros que lidam com as complicações causadas pelo excesso de peso. O Mounjaro, um injetável da Lilly, junta-se a outras “canetas emagrecedoras” como Ozempic e Wegovy (semaglutida) e Saxenda (liraglutida).
Até então, o Mounjaro era aprovado no Brasil apenas para o diabetes tipo 2. Agora, pode ser prescrito para pessoas sem diabetes, desde que tenham Índice de Massa Corpórea (IMC) acima de 30 kg/m² (obesidade) ou acima de 27 kg/m² (sobrepeso) com alguma comorbidade, como doença hepática gordurosa, apneia do sono, hipertensão ou histórico de doenças cardíacas.
A Dra. Dhianah Santini Chachamovitz, endocrinologista e professora do Instituto de Educação Médica (Idomed) explica que Ozempic e Mounjaro são análogos de hormônios intestinais naturais. “Esses medicamentos imitam os hormônios que a gente produz, porque têm a capacidade de se ligar a esses receptores”, detalha. O Ozempic atua como análogo do GLP-1, hormônio que retarda o esvaziamento gástrico, promovendo saciedade, e age no cérebro inibindo a fome. Já o Mounjaro é único por se ligar a dois peptídeos intestinais: o GLP-1 e o GIP. “A afinidade pelo GIP é o que o diferencia do Ozempic”, destaca. Essa ação dupla confere ao Mounjaro um efeito mais eficaz na perda de peso, estimulando a queima de gordura e reduzindo náuseas.
Estudos já mostravam a superioridade do Mounjaro na perda de peso. A Dra. Dhianah confirma: “Temos estudos comparativos das duas moléculas para o tratamento da obesidade”, citando pesquisa que indicou “superioridade significativa do Mounjaro”. Mesmo em doses menores, “a mínima dose de Mounjaro de 5 [mg] foi superior na perda de peso de pessoas com diabetes”.
Apesar dos benefícios, a médica alerta para os perigos do uso indevido e da automedicação. “Existe risco de a pessoa passar mal, ela precisa saber a dose”, enfatiza. Complicações como dores abdominais, náuseas e desmaios podem ocorrer. Há contraindicações importantes, como histórico de certos tipos de câncer de tireoide e pancreatite. “Como todo e qualquer remédio, precisa ser acompanhado pelo médico”, ressalta, pois são medicamentos para uma doença crônica que exige acompanhamento especializado.
A endocrinologista também explica que para o tratamento de enfermidades crônicas e sem cura, não se usa o termo “efeito rebote”, e sim a perda de controle da doença.”Quando eu interrompo o tratamento, o remédio para de fazer efeito e a doença perde-se o controle”, explica. Isso se aplica à obesidade: interromper o medicamento significa perder a inibição do apetite e a queima de gordura, levando à recuperação do peso. “Por isso que o manejo tem que ser individualizado e tem que ser acompanhado por um especialista”, afirma.